Soneto XVIII (de Louise Labé)

Louise Labé foi uma poeta francesa do século XVI. Publicou apenas dois livros (ambos em 1555) e chegou a ser considerada uma "nova Safo". Recentemente, surgiu um debate acadêmico sobre se ela teria realmente existido ou se não teria passado de um precoce "golpe de marketing" de um grupo de poetas e de um editor da região de Lyon. Bom, não vou entrar nessa polêmica. Vamos ao soneto...

Sonnets (XVIII)

Embrasse-moi, embrasse-moi encore et encore :

donne m'en un de tes plus savoureux,

Donne m'en un de tes plus amoureux :

je t'en rendrai quatre plus chauds que braise.

Las, te plains-tu ? Viens, que j'apaise ce mal

en t'en donnant dix autres encore plus doux.

Ainsi mêlant nos baisers si heureux

jouissons l'un de I'autre à notre aise.

Alors chacun de nous aura une double vie.

chacun vivra en soi et en son ami.

Laisse-moi, Amour, imaginer quelque folie :

je suis toujours mal, car je vis repliée sur moi,

et je ne puis trouver de satisfaction

sans me ruer hors de moi-même.

----------------------------------------------------

Soneto XVIII

Beija-me, beija-me, mais e novamente,

Dá-me um dos teus mais saborosos,

Dá-me um dos teus mais amorosos,

Te devolverei quatro, qual brasa candente.

Ah, te queixas? Vem, aliviarei teu tormento,

Dando-te outros dez ainda mais prazerosos.

Fundindo nossos beijos assim tão ditosos

Desfrutemos um do outro a contento.

Então cada um de nós uma vida dupla terá

cada um em si e no amigo viverá.

Deixe-me Amor, pensar qualquer doideira:

Estou sempre triste, vivo com discrição,

e não posso encontrar satisfação,

sem para fora de mim lançar-me inteira.

------------------------------------------------------

P.S.: "e não posso encontrar satisfação" lembra à vocês alguma coisa? ;)