Soneto do Cadafalso

SONETO XXXI

Se és tu, deveras, quem me imputa a morte,

Resignado, suplico que se faça,

Pois, antes esmigalhar-me em tua maça,

Que esperar, na existência, melhor sorte.

Se tu me impões da vida o abrupto corte,

Seja tua, a lança que me trespassa.

Que tu, só tu, te embriagues nesta taça

Em que me faço rubro – e teu consorte.

Porém, se revogares a sentença...

Se acaso, o que te inspiro é piedade

E da pena me libertas... Me invade

O peito a chaga da mais grave ofensa:

Pois, lograr, por carrasco, tal beldade,

Não será castigo, mas recompensa.

Rio, 27 de Dezembro de 2001

Antonio Sciamarelli
Enviado por Antonio Sciamarelli em 09/06/2006
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