Desilusão

Por ordem divina chueguei certo dia,

Incauto e sem guia,

No mundo a sorrir.

Seguindo o meu sonho de ingênua criança,

Eu tive a esperança

De um belo porvir.

A brisa amorosa beijou-me na fronte,

Um lindo horizonte

Ao longe avistei.

Se tudo falava de amor e poesia,

Um tom de harmonia

Em tudo eu notei.

De peito ancioso, corri à procura

De gozo, ventura,

Mistério e condão.

Vaguei pela terra, de abrigo em abrigo,

Qual pobre mendigo

Em busca do pão.

E sempre encontrando em meus tristes caminhos

Os duros espinhos

Que a mágoa contém.

E a voz da ilusão a dizer-me, de lado:

O teu eldorado

Está mais além.

Além eu passava, à procura do norte,

Porém sempre a sorte

Fatal contra mim.

Enquanto os martírios eu ia carpindo

Mas via surgindo

Tormentos sem fim.

Na longa viagem, vi monstro homicida,

Vi luta renhida

De irmão contra irmão.

E vi entre os homens a falta de siso,

Nos lábios, um riso,

No peito, um dragão.

Nas noites escuras, ouvi o bulício

Dos filhos do vicio

No doido tropel.

E vi a loucura da mais linda dama

Socada na lama

Do negro bordel.

Vi tudo envolvido na baixa matéria,

Um caos de miséria,

Voltei desolado, de peito vazio,

Nem honra nem brio

Na terra encontrei.

De tanta tristeza, pezar e desgosto,

Senti pelo rosto

Correr-me o suor.

Se neste universo só reina tortura,

Devo ir à procura

De um mundo melhor.

A morte vem perto, conheço que morro,

Não peço socorro,

Preciso morrer.

Aquele que pensa, não morre gemendo,

Pois ele está vendo

Que cumpre o dever.

Não levo saudade guardada na mente,

Da vida presente

Eu nada fruí.

Em vez de conforto, sossego e delícias,

Somente malícias

E dores eu vi.

Jephe
Enviado por Jephe em 05/09/2009
Reeditado em 05/09/2009
Código do texto: T1793637