Soneto do Suicídio

Não me impeça, eu lhe imploro, não me impeça:

com certeza o pouco que me resta já me é muito

e nas misérias é que me viro, implorando

por dizeres que não quero ouvir.

Jure nunca mais jurar, pecado difamante

daqueles que morrem por dentro já apodrecidos por fora.

O ceticismo fétido das imundícies subumanas

ou a putrefação gelatinosa das carcaças inquisitoriais.

Apago o fogo da minha mente, descrente desse mundo

crepitante e longe de sadio. Doentio, por demais fatídico

e insensível, a tantos invisível, nas masmorras de sua glória.

Atiro o projétil de mim mesmo, abismal e colossal,

às profundezas dessa realidade nefasta e repugnante.

Aguardando o momento derradeiro, quando, finalmente, descansarei.

Fernando em Pessoa
Enviado por Fernando em Pessoa em 12/09/2009
Código do texto: T1805975
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