"A V A T A R"

Antes, a alma que tenho andou perdida.

Porque mundos rolou, que mão sutil

Pôs tão nobre fulgor, e estranha vida,

Nesse bocado de ouro e barro vil?

Decerto, árvore foi: verde jazida

De ninhos, sob o céu de espuma e anil,

E foi grito de horror, na ave ferida,

E, na canção de amor, sonho febril!

Foi desespero, sofrimento mudo,

Ódio, esperança que tortura e inferna;

E, depois de exsurgir, triste, de tudo,

Veio para chorar dentro em meu ser,

A amarga maldição de ser eterna,

E a dor de renascer, quando eu morrer!

(*) Avatar, de RONALD DE CARVALHO (1893-1935).

Lobo da Madrugada
Enviado por Lobo da Madrugada em 16/10/2009
Código do texto: T1868931
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