Terreiro de Madrinha

I

Passa um, passa dois, passam três patinhos: que maravilha

Atrás deles, outros patinhos entram no lago a nadar.

Mamãe pata, à frente, abre caminho, todos a olhar

Com o mesmo carinho, fico parado, extasiado – não desgrudo da fila.

II

Já lá no terreiro, em grande alarido, o galo a cantar. Perus em volutas

Com mais de mil cores, galinhas de açores, com seu estranho cantar.

É vida que esbanja. Beija-flor na laranja, a galinha Cocota continua a ciscar.

-Zé! Leve o milho pros bichos. É madrinha São Pedro, acordando mais cedo; já está na labuta.

III

Neste mundo tão puro, onde tudo se pode, já estou a galope com meu primo Pagode.

Tem baile de noite, onde vamos dançar um baião bem maneiro, um xote ligeiro,

Com meninas bonitas, de olhos sonados, cabelos com fitas e um requebro que é só delas.

IV

Maneco no fole – o camarada não é mole – tira um som de primeira, e o povaréu se sacode.

Ali não tem tabaréu, da zabumba o compasso, vem juntar o triângulo carregando o pandeiro.

Prá tão boa festança, a noite ainda é criança. Acordo a custo do sonho, já um pouco tristonho, de ohar na janela...

...pensando saudoso: como a vida era bela!

Quando criança, ganhei um galinho garnizé a quem dei o nome de Zé Pedrês. Ia tudo bem até o dia em que se convencionou que o Zé estava pronto prá virar almoço. Como não concordei com o disparate, salvei o Zé Pedrês já com a cicatriz no pescoço, estragando o almoço da turma e preservando o meu amigo para as performances cantarolantes das madrugadas.

Vale do Paraíba, madrugada de Terça-Feira, Dezembro de 2008

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 30/10/2009
Reeditado em 02/11/2009
Código do texto: T1895215
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