Soneto para um Amigo

Um domingo pesado, daqueles domingos sem graça; nublado, chuvoso, com ar de pai zangado

Substitui uma noite insone, escura - uma noite tornada ainda mais dura pelo teu faltar;

É o que descortino de minha janela, que se posta como sentinela, tensa – a me vigiar.

Meu travesseiro está amassado: as roupas desarrumadas denunciam-me melancólico – ensimesmado.

Dou um chega prá lá no tédio (procuro e encontro o ponto médio), um canto prá me equilibrar.

Escuto Gal na vitrola, viajo ao som da viola. Liberto minhalma – deixo-a em livre voar.

Talvez prá vencer este dia, este meu pai que vigia, tenha de ler um bom livro - ou recorrer à poesia.

Mas penso aqui comigo – só mesmo um ombro amigo – é o que vence esta minha maresia.

Daqueles amigos serenos, que caminham junto com a gente, que sem que a gente nem fale

Tem a resposta precisa. Oferecem sem que peçamos aquilo que mais precisamos: amor e compreensão.

Amigos assim tão ligados, podem até ser namorados; mas em socorro a verdade – são mais que nossos irmãos.

O sofrimento de um amigo dói muito mais que o meu. Em mim a dor é sozinha, bem mais fácil de curar.

A dor do amigo eu faço minha, querendo compartilhar; procuro saber de tudo – não deixo escapar detalhe.

Meu amigo é parte de mim: é o espelho em que me reflito - é o Rio que alimenta o meu Mar.

Já muito escrevi a respeito da amizade, este sentimento alicerce de toda construção afetiva. Prá não incorrer em prolixidade, digo simplesmente um quase lugar comum: amigos a gente escolhe livremente – não vem como imposição.

Vale do Paraíba, manhã do terceiro Domingo de Fevereiro de 2009

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 31/10/2009
Reeditado em 22/08/2010
Código do texto: T1896865
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