... Não olhes a quem

… Não olhes a quem.

Cândido

Numa tarde de inverno, agreste e fria,

Um sem abrigo veio a tiritar,

Pedir uma esmolinha pra matar

A dolorosa fome que sentia.

Levei-o a jantar onde eu comia,

Sentei-me à sua frente a observar

Como sorvia, à pressa, o tal jantar,

Como se fosso o seu último dia.

Senti naquele olhar, ainda menino,

Um brilho irreal, talvez divino,

Que me irradiou de estranha luz.

E notei, num profundo sentimento,

Que naquele santíssimo momento,

Matei a fome ao próprio Jesus!

Cândido

Cândido
Enviado por Cândido em 10/11/2009
Código do texto: T1915498
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