Ouçam esta criança
OUÇAM ESTA CRIANÇA!
Cândido
Nas mãos, tenho a leveza da ternura,
Na pele, sinto a falta de carinho,
Ainda tenho a alma como arminho,
Sou um resto de amor, de alguma jura.
Na boca, tenho a fome negra e dura,
Moro na rua, como um cachorrinho,
No peito tenho medo, estou sozinho,
No coração, a sombra da amargura.
Ah! Mundo tão cruel e tão impuro,
Ainda sou a flor do teu futuro
Mas sinto um pesadelo de gatilho.
Ó Homem que ainda crês em algum Deus,
Eu sou um dos mortais pecados teus,
E, quer queiras ou não, eu sou teu filho!
Cândido