SONETO DA DESPEDIDA

Ainda uma vez deixa-me só tocar-te o rosto,
Como o orvalho a epiderme das rosas toca
Sem necessidade de receber algo em troca 
Sem nenhum anseio de ter seu desejo posto.

Um toque só, de mão amiga e bem sincera
Como um encontro de pássaros descuidados,
Num jardim onde botões de rosa são mimados, 
Mas não pretendem monopolizar a primavera.

E a minha mão rola em tua face sem pudor,
Como uma gotinha sobre pétalas deslizando,
E de repente cobrindo-te o corpo por inteiro;

E o teu olhar cobrindo o meu com tanto amor,
E o meu olhar no seu olhar se derramando,
Como a chuva engravidando esses canteiros.

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 15/01/2010
Reeditado em 11/01/2012
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