AMOR (Luís Vaz de Camões)
Eu sei, eu sei, a regra é: não publicar texto que não seja de sua autoria. Mas como, sobretudo em Letras de Música, tá assim de gente fazendo isso, julgo-me no direito de também transgredir o figurino com este lindíssimo e insuperável soneto, do grande Camões, o maior dos poetas lusos:
Amor é um fogo que arde sem se ver
Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?