NEGRO VELHO
(Em memória a Pai João)
Soturno, pés descalços, peito aberto
Ao vento agreste da campina em flor,
Cabeça ao chão curvada, olhar incerto,
Morrendo a cada instante, a cada dor.
Fere-te a carne, o látego ali perto
Nas mãos do miserável malfeitor!
Porém, tua alma pelo campo aberto
Vai mostrando o perdão, a luz, o amor!
Repousa ó Negro, que do peito o agravo
Do alegre berço à triste sepultura
Amordaçou num destemor de bravo.
Bendita sejas tu, ó raça pura,
Que deu da negra carne o sangue escravo
A espalhar pela terra a semeadura!