Constatações
I
Observar as estrelas, rompendo da noite o negrume.
Ao namorar, dela, nunca, jamais, sentirei ciúmes.
No escuro observar, o alumiar dos vaga-lumes.
O corpo do meu amor tem o melhor dos perfumes.
II
O cabelo, farto, denso, mostra o outro lado da Lua.
Olhos profundos, nariz atrevido: voz rouca na boca ardente,
O andar cadenciado, tanto faz em vestes quanto nua.
Quando me abraça é carinho; mas faminta, não pensa: crava-me os dentes.
III
De tão longe ela veio; de muito longe eu vim também.
O encontrar foi trôpego, perdidos numa noite estranha,
Inusual como noite vazia - árida como terra de ninguém.
IV
O reconhecer-se um no outro, trouxe alegria tamanha.
A sede vivida, ancestral, encontrou a fonte – pôs-se a saciar.
Amar – verbo intransitivo – só com o coração se deve conjugar.
Escrito numa tarde quente de uma segunda-feira, enquanto o escrevinhador se deixava embalar por lençóis de um reggae na voz carregada de sensualidade de Zélia Duncan.
Vale do Paraíba, Outubro de 2008
João Bosco