ATRASEI-ME NO CAMINHO

(Mito da Reminiscência, o não-esquecido. Platão in Fédon).

Sinto-me sempre vivendo em terras estranhas,

longe de casa e dos afagos de uma vida plena,

ando ligeiro entre os espinhos que me cercam

para não conspurcar-me na rudeza do caminho.

Por que esta saudade invade minhas entranhas,

memória distante de um tempo que me acena

com outras lembranças, certezas que despertam

sem que ao menos eu consiga discernir sozinho

se os sonho acordam idéias que se criam a esmo,

alguma miragem do deserto, areias em torvelinho,

ou traduzem o entendimento de um saber antigo?

Prefiro pensar que sou prisioneiro de mim mesmo

atrasei-me no percurso que leva a um velho ninho

andei perdido, distante do meu verdadeiro abrigo.

José Luongo da Silveira
Enviado por José Luongo da Silveira em 01/09/2006
Código do texto: T230504