SAUDADE

Grande e sentida dor que meu ser dilacera

nesse dia infeliz em que corto as amarras

que, ligando à matriz, me rasgando qual garras,

são de mim teu penhor em paixão que acelera...

Desta vida és actor, desta selva uma fera,

da paixão meretriz, do sentir anteparas,

és parceira, aprendiz, uma fonte que agarras,

és a face do amor que minha alma venera.

És também a tristeza de um dia sem sol,

és o choro sentido, és orgulho, vaidade,

mas não trais a beleza de um só girassol...

E lembrando, ferido, sua mocidade,

entrevejo pureza - do amor és escol -

neste preito devido ao sentir-te, saudade.

Sintra, 12/08/2006

António CastelBranco
Enviado por António CastelBranco em 03/09/2006
Código do texto: T231894