Soneto a Morte
Rogo o fim de minha existência, contrito sobre minha decadência
Nada mais retém minha curiosidade, sou indiferente a atroz realidade.
Perdi outrora aprazível e afortunada essência; estou preso a existência.
Imploro por essa caridade, suplico essa fúnebre liberdade.
Injuriado ou insensível a piedade, arremeto sobre mim indignidade.
Não mais seria motivo de desalento, não mais carregaria sofrimento.
Tantos defeitos, tanta incapacidade, a partida seria o fim de tamanha mediocridade.
Almejo ainda o esquecimento, de todo ser que tive ou por mim manteve sentimento.
Brado contra a verdade, pois fostes ausente em minha vida frente a constante falsidade.
Amordaçado pela tristeza vive sem eloqüência, décadas de pungente carência.
Açoitado pela apatia, desamparado dentre toda humanidade, revelo na vontade alguma essa insensibilidade.
A incompreensão em minha vida tornou-se referência, pré-julgamentos, como preconceitos determinaram essa evidência.
Valorado pela alheia frivolidade, sofro solitário aos olhos desta sociedade.
Descontente e encolerizado por essa medonha influência, encaro essa vida como penitência.