"VELHINHOS"

E vai fugindo o tempo. E, aos poucos, vem chegando,

Ai, vem chegando a idade em que eu serei velhinho,

Sopra o vento lá fora, as árvores curvando

E, em busca de outro lar, deserta o passarinho

- Ai, que frio! - eu murmuro. E, cheia de carinho,

Te chegas para mim, as minhas mãos tomando.

Ai, que frio, meu Deus! - torno a dizer baixinho,

De teu colo moreno as rugas contemplando.

E a lamparina estala e, trêmula, esmorece...

Lá fora, o temporal, bramindo, recrudesce

E solta, finalmente, os últimos arrancos...

E à luz crepuscular, que te sombreia os traços,

Tenho assomos de moço: aperto-te em meus braços

E beijo, apaixonado... os teus cabelos brancos.

(*) Velhinhos, de MENDES MARTINS (1876-1915).

Lobo da Madrugada
Enviado por Lobo da Madrugada em 06/08/2010
Reeditado em 26/09/2010
Código do texto: T2422936
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