O BERRO DA IRA
Estoura no peito o berro da ira!
Lacera víscera, a fera tortura,
retesa músculo, lesa e perfura,
dessangra o cérebro, o insano delira!
Estilhaça em cacos toda a brandura
que, em vã investida, tocando uma lira,
invade suave o tufão que então gira,
para amansar a emoção que supura.
Ensandecida, ata os cacos na pira
que abrasa nos nervos achas de agrura,
execrando o amor que ao fogo expira.
O que quer a ira é cegar a criatura,
sugar o seu viço e o que o bem inspira,
cravar-lhe, enfim, o punhal da loucura!