Soneto do Cálice
Querem meu semblante morto, minha humanidade
e sensibilidade à súplicar por piedade.
Querem somente a casca e o oco,
enquanto vende e exporta.
Acordo sob bombardeio ferrenho,
sou judeu e escuto sirenes, não gosto delas.
Acordo e em minha boca está um cálice
embebido de palavras voluptuosas: "Beba, meu bem, e cale-se!"
Sinto-me dopado, alheio a tua ilusão mórbida
aonde não posso me defender dos teus olhos ensoberbecentes
que dizem, vociferam e sussurram ao mesmo tempo: "Cale-se"
Mas tão inocentes, tão estagnados, pois não sabem
que o coração livre atiça-se ao ouvir tais insolências
e morde a mão que segura o cálice e responde: "Jamais!"