Soneto do cotidiano
(ou 'Métro, Boulot, Dodo')
Suado no subsolo de São Paulo,
São sessenta minutos ao destino:
'Consolação!', ouço soar os sinos,
Ah, maldito metrô! cheguei ao trabalho...
Senta, cada macaco no seu galho;
Tenta lembrar que o filho quer ensino;
Inventa estrelas de escritório, atalhos...
Agüenta, amanhã serás grã-fino.
Os dias, que não vejo nem passar,
Passam indiferentes a essa ausência;
Não é mais imarcescível o sonhar.
A próxima parada: o cemitério!
Já entreguei meus sonhos à opulência
Desse cotidiano sem mistério.