VIDA (Coroa de Sonetos)

VIDA (coroa constituída pelo último verso de cada um dos 14 sonetos que a constituem))

Esquece o teu passado, olha o presente,

com minh'alma não mais serás ferida;

a dor escorraçada dessa vida,

a aura desta Terra que se sente,

da vida que fornece na torrente

duma calma existente e não vivida,

o sonho de uma fábula esquecida

de quem nunca se perde na corrente.

Protegendo esses olhos que miraram

quando os caminhos nossos se cruzaram,

os rostos enfeitados por sorriso…

e assim continuarão nesta cruzada,

paladinos da paz tão procurada,

com amor, sentimento mais conciso.

Sintra, Agosto2006

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VIDA (coroa)

António Castel-Branco

Coroa de sonetos constituída pelos sonetos:

Agora!

A Outra Face

Essência

Eterno

Elementos

Brado

Fábula

Anseio

Atitude

Revelação

Renovação

Trilho

Cruzada

Apelo

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AGORA!

Com amor, sentimento mais conciso,

se tempera com arte a relação

no cosmos cozinhada com paixão,

entre uma Violeta e seu Narciso.

Assim, entre os teus lábios já diviso

prenúncios de palavras de emoção,

sussurradas e roucas de ilusão,

antecipando o tempo mais preciso.

Tempo em que subjugada te perdias

nos braços mascarados de folias,

onde ninguém revela o que se sente.

Então não vês chegado esse momento

de renovar a vida... mesmo a tempo!

Esquece o teu passado, olha o presente.

*****

A OUTRA FACE

Esquece o teu passado, olha o presente,

instante que não mais consegues ter,

fugaz na transição do tempo ser,

futuro que se anseia e não se sente.

As lágrimas toldando a tua mente,

memórias agarradas de sofrer,

com agulhas de sangue vais coser

as mágoas desse tempo já ausente.

Da dor assim liberta, podes ver

quão rica te tornaste no viver,

quão forte transformaste a tua vida.

Nessa doce lembrança doutro amor,

anseias novamente por penhor...

com minh'alma não mais serás ferida.

*****

ESSÊNCIA

Com minh'alma não mais serás ferida,

mas meu ser sentirás em tua busca

pelo amor que, surgindo em forma brusca,

teu corpo inundará sem mais guarida.

Artérias de paixão já percorridas,

fogo que te alimenta e não chamusca,

asas que te transportam - não te assusta? -

em suaves melodias já ouvidas.

Descobres deleitada o que te move,

emoção que, guardada, se renove,

sentir esta leveza já esquecida.

Com a paz inundando o teu semblante,

prossegues teu caminho exuberante,

a dor escorraçada dessa vida.

*****

ETERNO

A dor escorraçada dessa vida

que se abre para o tempo inacabado,

qual chama transportada por um brado

eivado de semente já nutrida,

se transforma, qual Fénix renascida,

em arauto dum mundo agrilhoado

que, repentinamente libertado,

se expande para a paz algo perdida.

E colocando o amor todo num gene

reproduzir-se-á, será perene,

e a vida sorrirá pra toda a gente...

mas sempre acautelando o nosso tempo,

semeemos de paz lançada ao vento

a aura desta Terra que se sente.

*****

ELEMENTOS

A aura desta Terra que se sente

no suave respirar dos elementos,

do fogo a crepitar com seus lamentos

ao vento que renova o ar à gente.

Desde a terra que aguarda uma semente

pelos deuses gerada noutros tempos,

à água que a transforma em alimentos

de energia crescendo a nossa mente.

Do murmúrio suave do ribeiro

ou dos sons emboscados na vertente,

de brilho e cor cintila o passageiro

astro-rei, deste mundo um afluente,

nascido nas entranhas foi pioneiro

da vida que fornece na torrente.

*****

BRADO

Da vida que fornece na torrente

de várias emoções que nos inundam

de amores e paixões que não abundam

mas que nos corações fundo se sente,

solta-se um doce brado refulgente

que, libertando os seres que se afundam

com hordas seculares que os secundam,

abrangerá o mundo e toda a gente.

E nesse instante jaz por toda a parte

aquela qualidade tão querida

que se encontra por trás desse baluarte

formado por uma alma tão sofrida

que só pretende a paz em forma de arte,

duma calma existente e não vivida.

*****

FÁBULA

Duma calma existente e não vivida

sofre o teu coração, minha donzela,

que por doce paixão fica de vela

para poder amar logo em seguida.

Inebriante já, minha querida,

tolda-te o siso o brilho dessa estrela

que te ilumina a vida e tu sem vê-la,

serás também uma alma mais sofrida?

Quisera ter nas mãos o mundo inteiro

pra tanto amor levar e convencida

por risonho semblante sorrateiro

a parares de vez essa corrida,

de pronto entregarás ao teu parceiro

o sonho de uma fábula esquecida.

*****

ANSEIO

O sonho de uma fábula esquecida

que nosso amor fomenta com ardor

será decerto um rasgo de esplendor

na névoa de quem estava já perdida.

Verdade que me lembro da partida

com ferrões de veneno e muita dor

mas aguardo a chegada sem torpor

ansiando recolher-te e dar guarida.

E rasgando a penumbra de emoções

acercas-te de forma permanente

encontrando o meu corpo com vulcões

que subjugas ao jeito meio ausente

habituado a lidar com erupções

de quem nunca se perde na corrente.

*****

ATITUDE

De quem nunca se perde na corrente

nem naufraga no mar duma ilusão

é fruto recolhido da paixão

mascarada num bago de semente,

que ao crescer dessa forma inteligente,

inundará de pronto o coração

de quem aguarda o amor sem frustração,

amando com o corpo e com a mente.

Ao ceder desse modo tão honesto

afastando as agruras que aguardavam

pra tornar esse encontro tão funesto,

deste as costas a todos que falaram

e as lágrimas soltaste num protesto

protegendo esses olhos que miraram.

*****

REVELAÇÃO

Protegendo esses olhos que miraram

bem fundo os sentimentos que renegas,

sem amor neste mundo andas às cegas

perdida em tempestades que não param.

Ciclones de emoções se misturaram,

tormentas que transformam em piegas

os Hércules que adornam as adegas...

receios que fustigam e não saram.

Trovões vão ribombando nessa mente,

transportando alguns laivos de semente

das paixões que os sentidos inundaram,

forçando a descoberta de um amor

latente em todo o ser, já sem temor,

quando os caminhos nossos se cruzaram.

*****

RENOVAÇÃO

Quando os caminhos nossos se cruzaram,

logo as auras se uniram como fogo

e juntos entretidos nesse jogo

nem demos pelas vidas que passaram.

Cobertos pelas chagas que rasgaram

nosso ser escondido nesse rogo

de lágrimas tamanhas que me afogo

no mar de sentimentos que soltaram,

como um só vislumbramos o destino

que aguarda no final deste caminho,

vereda que nos leva ao paraíso...

e lavando de pronto a iniquidade,

seguimos sempre rumo à liberdade,

os rostos enfeitados por sorriso.

*****

TRILHO

Os rostos enfeitados por sorriso,

as almas espreitando nos olhares,

o ritmo cadenciado dos andares,

as mãos entrelaçadas num narciso...

Dos corpos irradiam muito siso,

mesmo quando abordados nos lugares

talhados para andar com seus vagares

em busca do silêncio ou do juízo.

Mas nunca vão perder sua inocência,

nem mesmo neste mundo de demência

que tudo irá fazer na caminhada

pra destruir os laços que criaram

ou o trilho de amor que já sulcaram,

e assim continuarão nesta cruzada.

*****

CRUZADA

E assim continuarão nesta cruzada

em busca da razão de uma existência

que tendo uma paixão na sua essência

terá de ter o amor na caminhada.

Qual barco a despontar àquela enseada,

a chegar, de saudade, de impaciência,

dos carinhos sentindo tal carência

esta alma desta vida enamorada,

seguirão navegando pelo mundo

sepultando a tristeza bem no fundo

dos abismos da dor encomendada.

E plantando alegria em tantos lares,

luz intensa vogando pelos ares,

paladinos da paz tão procurada.

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APELO

Paladinos da paz tão procurada,

guardiães duma virtude que se esquece,

guerreiros duma causa que enobrece,

ginetes defendendo a dama amada.

Peregrinos de fé nunca olvidada,

herdeiros de uma teia que se tece,

heróis de uma disputa que se vence,

mensageiros com aura iluminada.

Erguei-vos desta deusa em defesa,

uni-vos, colocai-vos em represa,

sustendo esta corrente de granizo.

Sarai estas feridas tão profundas,

curai-nos destas chagas tão rotundas,

com amor, sentimento mais conciso.

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Para saber mais sobre Sonetos e Coroa de Sonetos, consulte as páginas de Paulo Camelo no Recanto das Letras em Teoria Literária

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António CastelBranco
Enviado por António CastelBranco em 13/10/2006
Código do texto: T263307