Amar demais - IV e V
IV
Quê te confunde o coração, te lembras?
– 'Quando fizeste isto com aquilo', dizes,
– 'Ó, naquela época éramos felizes!'...
Revives, mentirosa: tu não lembras!
As dores de cabeça já são crises.
Teu corpo não me entrega nem as sobras
E se para evitar-me te desdobras,
Prefiro então dormir com meretrizes!
Mulher ingrata, insatisfeita, tola!
Me desgosta até olhar a tua cara!
Devolva-me essas pratas e argolas!
Vou esquecer que cruzaste minha vida,
Vou olvidar que qualquer dia te amara
E que uma vez chorei na despedida.
V
E que uma vez chorei na despedida
Recordo-me, e repenso essa injustiça
Que são tantas sandices proferidas
No vil calor que ao ódio a briga atiça.
Ó vida minha! Por favor esqueça
O que não quis dizer, as malnascidas
Palavras desta boca mal parida,
Que fazem desejar que me arrefeça.
AH mulher, me desculpa; não és ingrata
Nem és maldita, tola ou mentirosa.
Sou eu a detestável e mais vil barata.
Sei que mereço o mais cruel castigo.
Por isso peço sejas piedosa
E saibas perdoar teu amante e amigo.