SONETOS DE ADEUS

1 - A PARTIDA

Os olhos do pensamento

enxergam coisas incríveis.

Eu me sinto entre dois níveis:

Um e cem. São meus “por cento?”.

Bate o sol e sopra o vento,

eu reparo uma vez mais.

Seriam meus cabedais

no doído pensamento?

A estrada é longa, e eu, cansado,

ando dormindo acordado,

sinto temor ao que vem.

Aproxima-se a partida,

não deixo ninguém na vida,

nem me acompanha ninguém...

22-05-06.

2 - A ALMA DE FANTASISTA.

A fornalha está acesa,

há calor, brasa à vontade...

Ninguém entende a leveza

de meu final de saudade.

Vou indo, adeus! Nunca mais!

Houve um começo, há um fim.

Vão comigo os cabedais,

não fica nada de mim...

Esta poesia simplista,

apaga como me apago,

solitária, sem ser vista...

A alma de fantasista

morre no simples e vago,

sem inventário e sem lista...

22-05.06.

3 - ROGO FINAL

Por Jesus, não me sepultem,

não quero meu fim à argila...

Eu quero a chama. A centelha

do sol que morre comigo...

Soltem-me as cinzas ao vento,

na fazenda onde nasci.

Se há alma, se há Deus, eu creio,

minha mãe vem receber-me...

É deixar que o tempo role...

Quem sabe, um ponto de cinza,

gera acaso uma semente...

Quem sabe, algum passarinho,

vem cantar no alto da árvore

e com ele minha alma...

22-05.06.