Dor de poeta

Numa pequena gaiola, arame e pinho,

dependurada num sombrio caramanchão,

senta em seu poleiro o canarinho

e trila o dia inteiro sua canção.

Amachuca-lhe à lembrança do seu ninho,

das macieiras em flor, na mansidão

e revoada de outros passarinhos

que só vêem liberdade, imensidão.

Muito embora a dor lhe dilacere e fira,

canta, até que o sol chegue a seu leito

deitando a luz entre os florais.

Assim o poeta; desgastando a lira

vai cantando até lhe desbordar o peito;

e quando sofre é quando canta mais.

Chaplin
Enviado por Chaplin em 27/10/2006
Código do texto: T275044