SONETO DESILUDIDO

Não digo e não vejo e não sinto e não quero

Não bebo e não cheiro e não toco e não sonho

Não escrevo e não penso, não canto e não espero

Não conto, não ouço e não leio e não ponho.

Mas se digo o que vejo, sinto e quero

E, então, bebo, cheiro, toco e sonho

Penso e depois escrevo, canto e mais espero

E conto o que li e ouvi pois a vida reponho

Decido que é melhor não sentir nem querer

Percebo que é perigoso demais o sonhar

Porque não há mais o que por ou propor

O certo e o verdadeiro é mesmo o descrever

O óbvio e o corriqueiro é mesmo dessonhar

Porque não há mais nada a transpor.

CAMPISTA CABRAL
Enviado por CAMPISTA CABRAL em 19/04/2011
Código do texto: T2919383
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