INJUSTIÇA

Eu sou lágrima e sangue do escravo açoitado

por salvar seu senhor de um enorme perigo:

o livrou do pavor de morrer afogado.

Por ousar ser melhor, recebeu tal castigo!

Sou a carne comida de um pobre maloio

que salvou de um felino o feroz canibal

e tratou-lhe as feridas, serviu-lhe de apoio.

Pós curado, esse ingrato o devora, brutal!

Nestas veias fervilham insanas revoltas...

Nestas terras estéreis de secas recoltas

já não há mais o viço das flores, dos cios...

Coração que serviu tantos seres carentes

é mordido em caninos, finíssimos dentes

da injustiça, dos seus desencantos sombrios.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 07/07/2011
Reeditado em 07/07/2011
Código do texto: T3080528
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