Gavetas do Tempo

Num fundo de gaveta achei jogado

um pedaço do meu eu que alí cabia

num bilhete pelo tempo amarelado,

como devia estar o tempo nesse dia.

Palavras de amor, juras, promessas,

as coisas próprias dos momentos idos

em que a vida, na verdade, já começa

a nos deixar ficar assim envelhecidos.

São como provas do arrependimento

guardadas, como esta, vida a fora

num canto escuro do nosso coração.

Gavetas que um dia, num momento,

nossa pobre lembrança abre, e chora

ao encontrar alí só restos de ilusão.

Amaury Nicolini
Enviado por Amaury Nicolini em 27/08/2011
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