Lembro da minha mãe em seus conformes
A desbravar a noite numa máquina de costura
Juntando panos, pontos, botões e agulhas
Dando vida e graça a tecidos tão disformes
 
E se algo, acaso, não estava a lhe satisfazer,
Perfeccionista ela sempre se esmerava
Batalha com a máquina então travava
Até fazê-la seguir o viéis do seu querer...
 
Ah, mãe, que saudade sinto do barulho entediante
Dos pedais, motores e lembro num instante
Do seu sorriso, ao contemplar a obra terminada
 
E imagino agora, no céu, os mesmos rituais
Entre cantos de cotovias, rouxinóis e pardais
Você fazendo um manto... Para Maria Iluminada...