PERDIDO

Emudeço as cantigas inúteis do peito,

as que outrora tornavam meus dias vibráteis...

Engolindo mil gatos de garras retráteis...

Minha fé mutilada a morrer sobre o leito...

Eu escondo no escombro, em porões, o preceito

de um viver sorridente, em sentidos pulsáteis,

misturando nos meus elementos voláteis

as mentiras latentes de um ser contrafeito.

Vago, insisto, tentando encontrar-me no mundo,

a arrancar estes mantos pesados de santo

e arrastar-me afinal nas sinistras vilezas.

Mas as fomes, as faltas consomem, profundo,

minha vida de enigmas imersos no pranto

das crateras do cerne que sugam certezas.