Ínfimas Luzes - Aarão Filho / Último Caminho - Aleki Zalex
O soneto ‘Último Caminho’, é um exercício poético inspirado no maravilhoso soneto ‘Ínfimas Luzes’, do magnífico poeta e amigo Aarão Filho. Transcrevo aqui os dois sonetos, para que possamos nos deleitar uma vez mais com esse magistral soneto de nosso querido Aarão.
Ínfimas Luzes
Aarão Filho
Ó tempo que desfolha os meus dias
Andando na cegueira com seu rastro,
Qual barco à deriva, sem ter mastro,
Nos mares mais profundos, maresias...
... D’onde vens amiúde, em surdina?
Trafegas em caminhos flutuantes,
Nas vagas deste mundo, nos instantes,
Que ficam para trás... Que triste sina!!!
Ó tempo em desespero, obstinado,
Vais-te na correria te apagando
Sequer deixa comigo ínfimas luzes!....
Já tenho na idade, um bom punhado;
Já ando muito lento, vou cansado;
Por que tu não carregas minhas cruzes???....
Último Caminho
Aleki Zalex
Desfolhado pelos ventos do outono,
Sigo o seu passo, trôpego, cegamente,
Barco sem velas, neste mar inclemente,
Que já se faz acostumar ao abandono...
E o velho tempo, impiedosamente,
Toma meu caminhar e se faz meu dono,
A passos lentos, já prenunciando o sono,
No qual tombarei um dia, finalmente...
Vão-se os dias, frios, desesperançados,
Passam as horas em vagaroso compasso,
Nada tenho, além de minhas lembranças...
Triste sina a de quem já viveu bom pedaço,
De quem tem já alma rota e pés cansados,
Carregando a última cruz da esperança...