DESESPERO

Arranca de mim esta farpa que fura

profunda em silêncio agudíssimo e seco

no peito que grita a arrastar-se no beco

dos pútridos restos de vida de agrura.

Aparta de mim este prego candente

cravado nas vísceras d'alma em sangria

com asa amputada ondeando-se fria

no lodo do fétido inferno gemente.

Ensurda de mim todo o brado de medo

que ferve por dentro e congela por fora

com gesso gelado a quebrar dedo a dedo.

Extirpa de mim este imenso penedo

com lascas de treva que explodem na aurora

do amor torturado que sofro em segredo.