VERSOS BRUTOS (Marco Aurelio Vieira) / VERSOS AO VENTO (Oklima)

E invade a fúria, a sanha de escrever

os versos-sangue que gotejam d'alma,

em desacertos crus do vil prazer

que me fustiga a essência e após espalma...

Ai! Esses versos – pesos de um viver

acorrentado, inerte, em férreo trauma –

golfando, em lava, ardores do poder

que a fera exerce sobre a presa calma...

Quereis o que de mim, nervosos versos?

Que afogue em vossos jorros meus perversos

demônios vivos de uma vida morta?

Ó, brutos versos meus, sabei, por fim:

Por mais que esbravejeis, não abro em mim,

na entranha, a aldrava que me trava a porta.

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Muito obrigado, poeta amigo Odir Milanez (Oklima), por brincar de versejar comigo:

VERSOS AO VENTO

Vergado ao peso do que não sei mais,

em meus passos pesando o paradeiro,

eu sou nave sem volta, presa ao cais,

após o seu transfúgio derradeiro!

As lembranças libertam temporais

que me fazem do cais prisioneiro.

Correntes causticantes, colossais,

vão queimando-me as crenças por inteiro!

Um poeta fadado ao desalento!

Sonhador que na sombra descredita

e de ter sombra não tem mais intento!

Perpassando meu passo, em passo lento,

versejo à noite versos de desdita

enquanto os leva para longe o vento!

Mas persiste em domar meu pensamento

paixão pela poesia essa maldita!

oklima

JPessoa/PB