NUVENS

Caminho sozinho na escura madrugada,
O vento sopra... abala os meus sentidos,
Chuva fina, esquinas, retinas cansadas,
Lembranças de momentos nossos não vividos.

Nuvens se aproximam dos meus passos perdidos,
Encobrem o breu da minha alma prostrada,
No vão, no não, no chão, nos sonhos interrompidos,
Alma entregue ao vento como flor despetalada.

Lamento então, esses sentimentos recolhidos,
Essa mescla de outono - inverno, esse nada,
Essa bruma, esse ego torto, enlouquecido.

E de tão louco tenho visões de ti minha amada,
Linda, aproximando com o sorriso estendido,
Trazendo sonhos para a minha caminhada.


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RECONSTRUÇÃO

 No chão, no vão,
nos sonhos interrompidos,
tu caminhas altaneira
na escura madrugada,
deslizando bem ligeira
como se pesasses nada,
sem fazer qualquer ruído.

 Na loucura da visão
(terei eu enlouquecido?),
eu te sinto por inteira,
silenciosa e calada,
uma linda feiticeira,
que passa a noite acordada
colhendo sonhos perdidos.

 Não hesito, dou-te a mão,
meio, ainda, adormecido,
na esperança alvissareira
de que tu, que és minha amada,
serás a mulher rendeira,
que com os seus dons de fada,
refazerá o bordado, reconstruindo o traçado
que pensavam destruido.

 À luz clara da alvorada
se fará a caminhada.

(HLuna)