Quadrilogia: Sonetos de Morte
Soneto de Morte I
Vazio que a lágrima aduz,
Naufraga o sonho e a sorte,
A tristeza vaga e conduz,
A esperança ao leito de morte.
No silêncio que o poeta traduz,
Por lamento flébil ao consorte;
Ao sóbrio a tristeza induz,
À embriaguês, a fraqueza do forte.
O corpo exânime ressalva em prece,
No epitáfio, palavras de probidade:
Aleivosia que o tempo esquece
Pornéia da vida, caos e iniquidade,
Amor que aos poucos padece,
Junto ao corpo que agora perece.
17/02/2003
Soneto de Morte II
Triste vazio que a vida encerra,
Termina em lágrima flébil,
Recoberto de sáfara terra,
O etéreo corpo, a mente débil.
Nunca serviste à homem nenhum,
Mas neste instante, choras,
Foste tanto em vida, para agora,
Serdes apenas mais um.
A dor que à alma flagela
É fruto amargo do orgulho,
É a culpa que dilacera.
Sob o solo, serás podridão,
No escuro que encarcera
A verdade do vil coração.
17/02/2003
Soneto de Morte III
Cala-se ao leito de morte,
Encerra o sonho, abre a ferida,
Deli a alegria e a esperança da sorte,
Nasce a morte à vida vencida;
Enfada o tempo, enfraquece o forte,
Etérea face da alma sofrida,
Vaga o sonho do sul ao norte,
Verte o pranto, à lágrima coagida.
Tristemente ao fim caminha,
Já soa o canto pela alma partida,
Réquiem que à mente definha.
O êmulo que já se avizinha,
Com a falange de almas caídas,
Cerra a vivência que a dor espezinha.
10/03/2003
Soneto de Morte IV
O féretro a quatro mãos caminha,
E o pranto verte e mitiga
A dor atróz que espezinha
O coração da alma ferida.
E é mais triste a vida sozinha,
Que a tristeza da existência que finda,
Pois o tempo transforma e definha
O corpo que vive ainda.
Escuro e cego o sol se alumia,
E junto a ti seu brilho padece
No crepúsculo do derradeiro dia.
E o fúnebre canto fenece
no tom que transcorre em sintonia
Com o corpo que agora perece.
20/02/2004
Obs: Este quatro sonetos foram escritos com rimas semelhantes e palavras repetidas para dar unidade. Inicialmente era para ser uma trilogia, mas a morte não cessa, então fui obrigada a continuar.