'XUXA A LOUCA"

Em um bar apinhado de ébrios, em Salé, uma pobre demente

Apelidada de Xuxa comparecia todas as noites para filar um pedaço

De lingüiça de lanches, e os imbecis dos ébrios ficavam glosando com a coitada que atirava pedras nos ébrios e o dono do bar chamava a polícia para prendê-la. Segundo os empregados do bar depois deste soneto ninguém mais irritou a pobre demente.

Embebedados sempre de alegria

Zombamos da coitada em seus trejeitos!

No entanto, para Deus não são eleitos

Os que sofrem as dores da ironia?

E “Xuxa, a louca”, sofre noite e dia,

A fome, o frio, a dor, os preconceitos;

Corre açoitada, em ânsias, sem direitos

Em reclamar da nossa zombaria.

Não estranhem se, um dia, quando mortos

À procura de paz e de outros portos

Formos todos para o Céu, perante o Eterno.

E lá, sentada, em luz divina e flores,

“Xuxa a louca”, feliz, nos resplendores

E nós... mandados aos confins do inferno!...

Salé, novembro de 1998 Lucas