Levai-me, ó Anjo!
Jorge Linhaça
 
Levai-me, ó anjo, à augusta morada
Onde o repouso final me aguarda
Guia Minh’alma sob a tua guarda
Deixai meu corpo aqui e mais nada
 
Levai-me ao céu por brilhante escada
Deixa que os vermes me comam a farda
Deixo a vida madrasta e bastarda
Prossigo agora a minha jornada
 
Bem sei que a água que brota na fonte
Já se renova a cada instante
Bem sei que o rio que corre sob a ponte
 
Nunca é o mesmo, eterno mutante
Água salgada me desce da fronte
Lágrimas doces dum fim triunfante.
 
Salvador, 30 de março de 2012.