Sonetorto da Melodia

Esse tem historinha, gente. Leiam abaixo.

Sonetorto da Melodia

Canto hoje a melodia

Cantada de anteontem

Canto sempre desde sempre

Desde antes desses'omem

Que só canta se se encanta

Canto a mesma melodia

Eles canta o horizontem

Eles canta o horizontem

Eu canto a poesia

Eu canto a poesia

Eu canto a poesia

Diferente e referente

à batida que se some

à batida qu'sessome

Na novavelha Maria

Dija Darkdija

P.S.: Esse eu até me atrevi a cantarolar, gente, rs... Quem quiser ver o desastre e fazer algo mais digno, clique aqui: http://www.recantodasletras.com.br/audios/poesias/49204

P.P.S.: Agora, a historinha. Essa é mais longa, rs. Bem, eu espalhei o texto "O que é sonetorto" por vários grupos do facebook e divulguei do jeito que pude. Então, no meio de todos os comentários (não foram uma chuva, mas foram significativos, considerando o que está sendo feito aqui), surgiu uma discussão acerca de musicalidade e as palavras música, melodia, harmonia, musicalidade e seus derivados apareceram por todo lado. Apareceram uma vez aqui:

"Dija, sempre digo não sei, mas não sei se a poesia nasce do som ou se o som nasce da poesia, mas enfim, pessoas que inovaram houveram um monte, nesses tempos de literatura, penso que enquanto está tentando provar uma nova teoria de "soneto", muitos outros se atreveram a escrever sonetos fora da regra, agora uma pergunta que já respondo: uma música fora de ritmo, é uma música com harmonia e melodia? Não, alguns chamariam de um acidente musical, mas não de musica.

Um soneto com métrica regular (não se assuste) tem lá suas características, assim como tem os haicais, ou como tem os poemas.beats, como os herméticos, e etc,etc, etc...

Uma delas é a musicalidade e a preocupação de achar a palavra certa, a rima certa pra o que se está dizendo e a graça de mostrar o poder sobre a palavra, sobre a ideia e por fim, deixar um final surpreendente, o que chamam de chave de ouro.

Mas falando de definições sobre a poesia, me lembro de um poema de Drummond, "a busca da poesia", sempre será o que penso sobre o caso.

Mas enfim, gosto muito de ler sonetos, poemas, crônicas, discutir... E ainda não faço sonetos, talvez por falta de paciência, pois eles não são mais que uma engenharia com as palavras, mas admiro pessoas que o fazem parecer tão livres quanto o verso livre e é isso que penso sobre a poesia, um grito de liberdade aos conceitos inteligíveis, à angústia das leis, das regras, poesia é o que se há de mais humano nessa terra."

Ao que eu respondi isso:

"Dos outros não sei e não posso falar. De mim, não estou tentando provar teoria nenhuma. Só estou dando nome e explicação ao que eu faço. Agora te pergunto outra coisa: Uma música de ritmo diferente deixa de ser música? Não. É uma música diferente, com harmonia e melodia diferente, mas continua sendo música. Se bem feita, é diferente, é nova, soa esquisita aos ouvidos de alguns acostumados a ouvir só um tipo de música, mas é música ainda. É música também. Meu raciocínio é esse. São vários os ritmos e melodias de sonetos, mas são todos sonetos. Alguns mais valorizados e cristalizados, outros menos. Assim como algumas músicas são mais valorizadas que outras, alguns estilos de poesia são mais valorizados que outros. Há os mais simples e os mais complexos, e nada garante que o complexo seja belo e tenha sentido e que o simples seja chulo e falto de conteúdo. Assim como na música. São vários os ritmos e estilos de poesia, mas são todos poesia. E isso se estende à arte. São várias as artes, mas todas arte. Formas de expressões individuais que se universalizam para um determinado público. Um soneto com métrica regular bem feito priza sim a musicalidade, tenho certeza disso, e é lindo de ouvir. Se não houvesse essa preocupação não haveriam tantos versos de sonetos nas boas músicas, ou tantas referências a estes. Não condeno esses de forma alguma. Condeno exatamente os que acham que é apenas contar sílabas e fazer rimas. E na minha busca pela poesia, encontrei isso que você acabou de ler. Encontrei o meu ritmo, e é este. Está longe de ser o clássico, e o clássico e bom nunca será desprezado. Servirá de inspiração para ser seguido e para não ser seguido. Por isso ele é importante. Então, repito: isso não é nenhuma teoria, é apenas uma nota sobre o que eu faço e um convite para os que se sentirem à vontade fazerem o mesmo. Ou simplesmente procurarem outros ritmos próprios. Suspeito que é o mesmo que acontece com a música e a arte em geral. Que cada um ache o seu ritmo e torça para não se perder nele. É o que espero para mim e também para você."

E ele respondeu assim:

"Uma definição. Um som é uma nota e uma nota já pode ser considerada música. De minha parte, o que quero dizer, de minha visão, se lesse seus poemas sem você os considerarem sonetortos, pra mim seriam poemas com quais eu me preocuparia com a mensagem, com o título e aonde o autor quis levar a leitura dentro de algum motivo que moveu minha imaginação. Acho que é isso, pra mim. Um abraço ( por favor, não me aceite como um troll)"

Não o aceitei como um troll. Deixei as ideias sobre a discussão em stand by para meditação posterior.

Algo parecido apareceu aqui:

"Gostei do começo. Não sabia que a forma original era pra ser cantada, mas tenho a teoria de que todo poeta que se preze devia saber o suficiente sobre música. (Eu basicamente não respeito o trabalho de ninguém nos dias de hoje que se meta com poesia sem entender alguma coisa de música.)

Outro dia mesmo eu discursava a respeito com minha namorada. Todo poema precisa ter pretensões a virar música. Mesmo que muitos não precisem ou não fossem se beneficiar muito disto.

Continue explorando.

Abraço aê."

Minha resposta:

"Não só o soneto. O cordel, que veio do repente, que veio dos cancioneiros. Os poemas antigos em peso. Os poemas latinos, gregos e da idade média eram feitos pra ser cantados. O gênero da poesia se chama lírico justamente por que os poemas eram acompanhados de lira na sua origem. Não sei muuuita coisa sobre, mas a poesia era originalmente feita com toda uma noção de ritmo e melodia para ser cantada pelos aedos e rapsodos. Como eles cantavam exatamente a gente não pode ter ideia. Ou pode, não sei se o povo dessa área de estudos clássicos conseguiu reconstituir isso de alguma forma. Não faço todos os meus poemas pensando nisso, faço alguns pensando aqui no blog, uma leitura silenciosa. E não automática. Por isso dou uma complicada proposital e ao mesmo tempo tento abrir umas opções com os parenteses. Ainda não me aprofundei nessas questões dos versos latinos e gregos, mas dou muita importância a essa questão de ritmo/melodia em boa parte do que escrevo. Sem essa noção poemas que eram pra ser fluidos podem ficar travados e difíceis de ler. Tem muita gente por aí que faz soneto e adora contar sílaba, faz isso divinamente, mas não se dá ao trabalho de ler pelo menos uma vez mentalmente e outra em voz alta pra ver se o som tá legal. Acho que isso deveria ser o básico do básico. Escreveu seu poema/texto/música? Leia/recite/cante. Se fez pra ser lido na tela, leia silenciosamente. Se fez pensando em recitar, recite. Se fez pensando em uma melodia, cante. Continuarei explorando possibilidades. A gente só consegue inovar assim."

Ele continuou:

"Pois é. Creio totalmente nessa parada de ler em voz alta.

Poema tem a ver com ritmo. Elias Pacheco andou definindo a coisa muito interessantemente numa dessas comunidades todas de literatura. "É como escrever um pensamento segundo o ritmo com que foi concebido" foi mais ou menos o que ele disse por ali.

Manda bala nesse seu trampo então que deve dar frutos.

Abraço!"

E adicionou:

"Ah, sobre os tais dos metrificadores: pois é. Eles tão precisando assistir uma palestrinha sua. Hahaha. Vai lá convertê-los, por favor...

=P"

E a conversa terminou com a seguinte resposta vinda de mim:

"Difícil. Eles são fanáticos religiosos da deusa métrica e da santa rima rica. O que não quer dizer que eu vá desistir de entortar sonetos e converter uns desses. Obrigado, e fui xP"

Depois desses comentários todos e dessa história toda de música, virou o dia. E eu pedi uma palavra para a musa. A musa existe mesmo, tá? É de carne e osso. A musa, além de acumular outras funções, me dá palavras quando eu peço pra que eu não fique ou na mesmice ou sem ter o que escrever. E adivinhem qual a palavra? Pois é, isso mesmo: Melodia. Então depois disso tudo precisei escrever isso aí e me atrever a cantarolar. Espero que não tenha ficado ruim, nem o poema nem a cantarolada. E em resumo, é isso. Vamos lá continuar entortanto sonetos. Que venham os próximos poemas, as próximas críticas e as próximas histórias.

Dija Darkdija

Dija Darkdija
Enviado por Dija Darkdija em 15/06/2012
Reeditado em 15/06/2012
Código do texto: T3725289
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