O grande muro
Um dia, hei de abeirar-me ao grande muro
E juntar-me aos milhares de destroços,
Mas eu vago na terra é entre os furos,
E outra coisa será o tempo nosso.
Qual letra tira o peito do vazio?
A graça da charada ao mundo cabe,
Mas, dentro dele, sem visão, eu rio.
Fora do riso, se couber, desabe!
Lembrar-me-ei da escola de Epicuro:
O existir sem temor de não ser mais
E, já não sendo, não temer o escuro.
Alguém virá fechar a minha boca,
Dirá o sentir, com letras nos jornais,
Por ela ter virado coisa oca.
Canoas, RS