CANTO REVELADO * Escuridão

É quando a noite cai, doendo, nos meus braços,

e tremem, no silêncio, os medos ancestrais,

que irrompe a escuridão e, aquém dos meus umbrais,

me envolve, em seu torpor, em lânguidos abraços.

Se tardo adormecer, segredos me suspira,

segredos que eu esqueço ao despertar-me a aurora.

Mas não desiste nunca e torna, sem demora...

Rendido acontecer e ser de quem delira.

E a minha insónia teima em conceder-lhe espaço.

Meu corpo exausto e lasso entrega-se, rendido.

E a noite, sem pudor, despindo o seu vestido

de angústia e escuridão, reclama o meu abraço.

Abraço que não dou, mas sempre lho consinto

assim como se fosse um cálice de absinto...

José-Augusto de Carvalho

Lisboa, 10 de Abril de 2013.

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 10/04/2013
Reeditado em 28/12/2018
Código do texto: T4232991
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