ESTRANHO

I

Se meu coração tão vago e deserto
Nada procura para o completar
Já não me pertence, pois procurar
E traduzir por quem vivo decerto.

Por que buscar-me num espelho então
E me perceber assim ressentido
Como quem observa e busca o sentido
De te amar demais fugindo à razão

Só o desejar-te de todo este dia
É amar-te tão mais quanto não queria...
Quando os teus olhos conduzem tristeza

Quando o lusco-fusco procura a rua
E o Sol arquiteta o brilho da Lua
Vejo afastar a longínqua beleza!

II

Então desvendo assombrado no instante
Que volto a mim e a desejo demais
Calculando nela temor jamais
Visto no amor a propor semelhante

Loucura terna que assim se envolveu
Pois nela teria o sorriso fausto
Porque me queria e eu tão exausto
Em flores sorri, no aparato seu

Eu sei que onde estou as estrelas choram
Sei que as estrelas navegando imploram
Querendo saber da distante amada

Deixa-me dormir! Descansar preciso...
Mais tarde acordar novamente viso
Num sorriso de palhaço e de nada
III

Mais alheio é sentir todo o querer
Tal qual te ver tão longe e triste assim,
Pois não poder aproximar-se enfim
Faz de mim um cavaleiro sem ser

É muito complicado estar confuso!
Pensar nesta expressão desabrigada...
Vista à face que de tanto almejada
Vislumbra-se por ti em todas quais cruzo

Cegando a tristeza que num clamor
De discreto remanesce a se expor
Em desertos disfarçados de vida

Se dispersa entre bosques e colinas
Na esquina nova que dentre as campinas
Lacrimeja aos ventos, à despedida...
jairomellis
Enviado por jairomellis em 28/03/2007
Reeditado em 28/03/2007
Código do texto: T428651
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