O RISO E A PEDRA

Na cara arcada cara em riso armado

de dentes que se apertam salientes;

se mostra o mais voraz dos mais contentes,

dá glórias à existência, escancarado.

Da estirpe dos notáveis sorridentes,

contempla vida linda e sol dourado;

não vê o escarro denso derramado

das pedras-gente, gosmas indigentes.

Sorrindo, nem percebe os malcheirosos

estorvos, seus cachimbos venenosos,

caminha como fosse num jardim.

Tamanha alienação, porém, tem preço:

tropeça em quase vivo humano gesso;

quebrada a arcada, o riso é morto, enfim.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 24/07/2013
Código do texto: T4401883
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