CASTRAÇÃO

E assim, o coração em mim partiu-se todo,

ao despertar-me ameno em tua nua essência,

levíssimo, indefeso, aos mimos da inocência,

afagos de ilusão que escondem torpe engodo.

Estúpido que fui! Ai! Que atitude tola!

Levar a frágil flama a ardor de alheio incêndio

e então penar-lhe a sanha em tórrido dispêndio,

perdendo a própria luz no afã de recompô-la.

Pois entregar ao outro a chave de seu mundo,

seus meios e sentido, o cerne, o mais profundo,

na ingênua aspiração de ter um céu maior...

É como que arrancar o sexo para dá-lo

a um ente superior e digno, sim, de usá-lo,

na crença de que, nele, é o gozo seu melhor.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 15/11/2013
Código do texto: T4571737
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