Esse Ronco Maldito

Soneto do ronco

Jorge Linhaça

Nefando ruído que me incomoda.

A roda dá mó é menos ruidosa

do que o som da boca pavorosa

que ronca à noite repetida moda

Vade pois retro, qu'eu já te esconjuro;

Boca do inferno!Tormento dos demos!

Deixai-me dormir uma noite ao menos.

Por tudo qu'é sagrado t'abjuro!

Cala-te, ronco de mil estertores,

Livrai-me agora desses teus horrores

Poupa-me já, aos meus pobres ouvidos

Ata a mordaça à boca nefanda

Cessa o barulho da pérfida banda

Deixai-me sonhar, sem tantos ruídos.