Soneto dum eu alterado

Não me tirem de mim. Não me tirem, peço

distância de meu senso, do eu justo

aquele eu que me transforma. Não meço

a ignorância que derramo a quem frustro.

Frustro a todos que me tão calmo crêem

- "Olha como é dócil. Tão mais que um santo.

O façamos bobo, pois é tonto" - vêem

de súbito, um inquieto, alterado tanto.

As abelhas não atiçadas são tão mansinhas.

Esforçam-se, trabalham, tão boazinhas...

Vivem tão bem a encher favo.

Sem que me mexam como sou bonzinho.

Como calmo, puro carinho...

mas se atiçado, bravo.