RECORDAÇÕES E NADA NOS PERTENCE
Como é bom relembrar as coisas positivas que se passaram conosco. Nesse retrospecto da vida, recorda-se o que fizemos de certo ou de errado, bem como o que deixamos de fazer a um nosso semelhante, não pelo fato de nos negar, mas, por não termos ido ao encontro dos sofrimentos humanos. Quantas vezes uma pequena intervenção da nossa parte tornar-se-ia um lenitivo para quem está necessitando!
RECORDAÇÕES
AYRES KOERIG
No canto da cozinha uma saudade eu via
E no fogão de lenha a cinza do borralho...
Estou a relembrar os ovos que eu frigia,
Levando alguma vez da minha mãe um ralho.
Para me refrescar quantas vezes dormia
A cesta do almoço, à sombra dum carvalho...
Eu era tão feliz entanto eu não sabia,
Desta grande ventura sem passar trabalho!
Hoje que já estou perto de ir à sepultura,
Se bem não tenha pressa, eu amo a minha vida;
Nada me impressiona nada me tortura...
E que Jesus me ajude na minha partida
E julgue que meus atos foram com lisura,
Para então me dizer: -- “Gostei! Missão cumprida”!
O soneto abaixo NADA NOS PERENCE, já foi publicado neste RECANTO DAS LETRAS em 11-01-11. Como sei que alguns dos meus leitores não o leram, coloco-o também hoje.
Será que é isso mesmo, ou você já viu um ricaço levar no seu esquife, algo que lhe pertencia de valor, além do terno bonito, camisa e gravata e um belo par de sapatos?
Não leva nem o seu relógio de ouro, quanto mais o carro, o iate a fazenda e outras coisas. Estes bens materiais são adquiridos para enquanto viver. Depois, com o tempo, vão trocando de donos.
NADA NOS PERTENCE...
AYRES KOERIG
(Versos de onze pés obedecendo forte acentuação: 2 – 5 – 8 – 11)
As aves canoras, o rei sabiá,
As flores, os rios, as vorazes piranhas,
Os mares, os lagos e as grandes montanhas,
Toda a natureza que existe por cá.
E quanto as estrelas as muitas que há,
As quais são regidas por forças estranhas...
E não são precisos cordéis nem maranhas
Pra serem fixadas aqui e acolá.
Tudo isto pertence a esse Deus Uno e Trino...
Porque nada é nosso! só nos dá direito
A Lhe reivindicarmos do seu uso-fruto,
Penhor concebido num foro divino...
Mas se nós tivermos viver bem perfeito,
Quitando estaremos o nosso tributo!