Da mesma forma que a religião não pode viver sem a morte, também o capitalismo não só vive da pobreza como a multiplica. (José Saramago)
Mercado de almas
E deus, ao dividir seu capital,
deixou pra cada filho o seu quinhão:
um osso de costela para adão,
um pé de macieira no quintal;
um calo, da primeira comunhão,
que há de doer do berço ao jazigo;
um beijo traiçoeiro de amigo,
na cruz de quem não pode dizer não.
Um saldo de pecado, sem castigo,
um pão, que veio à luz do grão do trigo
e que hoje é vendido nos balcões.
Não fosse o pai um grã capitalista,
que paga à prestação e cobra à vista,
não haveria mais religiões.
O diabo compra almas aos milhões,
mas sempre exige um santo avalista.