A mais bela, doce e vil mortalha

Lançado arfante e exânime, ao relento,

co' a derradeira força eu busco o alívio

do ar que escapa às narinas, num ambívio

obscuro entre o riso e o sofrimento.

Sem mais nenhum desejo, fé, intento,

e alheio ao duro fardo do convívio,

dos homens todos sobeja-me o oblívio,

no pandemônio que é seu pensamento.

A vida some e a morte é uma macega,

que embora alheia ao sonho que renega,

é a trégua de um ser que muito batalha.

Deixo o meu corpo, a sórdida ruína,

que do tecido fino da neblina,

tece a mais bela, doce e vil mortalha.

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 12/10/2015
Código do texto: T5412639
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