Alfa Aberto

Quero, nesta loucura em que padeço,

Abrir este portão sem me conter.

Buscar outra vogal que há no meu ser,

Mudar de verso e sonho, de endereço.

Se palavras malditas, que assim são,

Engasgaram gargantas que eram loucas,

Não herdarão jamais o céu das bocas,

E jamais vão ser ditas, mesmo em vão.

Que, na porta fechada entre seus dentes,

Os molares se movam na saliva,

E aqueçam a palavra, que está viva,

Fazendo inveja até para serpentes.

Pois quem abre a palavra é letra e voz,

Louco e verso, a verbete do albatroz.