Inexoravelmente, o muro

A bela cintilância que despeja

o brilho do luar que vai raiado

tinge de prata o verde do gramado,

a água sem cor e o rubro da cereja.

Mas na clara amplidão não há quem veja,

entretanto, decrépito e entrevado,

o corpo que revolve-se agoniado,

que afasta a fria boca que, atra, o beija.

É que a morte, implacável, sempre alcança

o ósculo postimeiro em nossos lábios,

dissipando os resquícios de esperança

que ainda luzem, tão pálidos, no obscuro

do homem, que embora rico, grande ou sábio,

sempre padece aos pés do mesmo muro.

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 25/01/2016
Reeditado em 18/04/2016
Código do texto: T5522425
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.