Soneto de Culpa

Passeando vago pela noite dama,

tento desatar um nó da garganta.

Corro do dia, mas o galo canta...

E quem me vê, se pergunta: "Esse ama?"

Não acho um espaço em que possa fugir.

Ao sol, escureço, ardendo de dor.

Prossigo como quem pede um favor

pra mim mesmo. Entanto, nem sei pedir...

Não fiz a minh'alma o dito em segredo.

Meu lado mais brando feri incessante.

Quem tanto me amou puni com degredo,

de forma que aos seus pés fui estorvante.

Não fui o bastante, então veio o medo:

tornei-me teu fel, jamais teu amante.